A primeira vez em que o babalorixá Jamil Rachid esteve na Câmara Municipal de São Paulo foi em 1978. Nesse ano, a Casa recebeu os primeiros encontros de chefes de terreiro em que os rituais da umbanda foram discutidos. “Lembro que os dirigentes religiosos ocupavam as cadeiras dos vereadores”, recorda. Nesta segunda-feira (16/11), Pai Jamil retornou ao Parlamento paulistano para receber o Título de Cidadão Paulistano, por iniciativa do seu xará, vereador Jamil Murad (PCdoB), e de Netinho de Paula (PCdoB). Representantes das tendas de umbanda e candomblé tingiram de branco o Salão Nobre e vieram dar seu sarava ao babalorixá. Também reafirmaram seu compromisso com a superação dos preconceitos contra essa religião.
Pai Jamil deu entrada no Salão Nobre, ovacionado e ao som de tambores.
“A solenidade homenageia um dirigente espiritual que sempre defendeu os cultos religiosos afro-brasileiros e a umbanda em especial que tem tantos adeptos em São Paulo. Com esse título ao Pai Jamil a Câmara reconhece uma personalidade defensora da pluralidade religiosa”, destaca o vereador, que conhece o babalorixá desde as homenagens a São Jorge-Orixá Ogum, durante 50 anos realizadas pelo líder religioso como promessa ao santo.
Em 2008 a umbanda completou 100 anos de prática no Brasil. É reconhecida no país como religião genuinamente brasileira e no Estado de São Paulo mantém em funcionamento mais de 30 mil templos divulgando os cultos.
Atualmente a umbanda tem muita aceitação no Brasil, sobretudo, nos Estados do Norte e Nordeste e no Rio de Janeiro. Em São Paulo existe a faculdade de teologia umbandista que, através de cursos e eventos, divulga os princípios da religião. “Por conta dessas ações como a existência da faculdade, congressos, seminários sobre o tema a umbanda é hoje bem mais conhecida entre as religiões brasileiras e diminuiu aquele estigma de sermos taxados pejorativamente como macumbeiros”, salienta Pai Jamil.
“Da umbanda, eu sou um soldado, não sou coronel. No Ibirapuera nós fizemos a maior festa de umbanda em ambiente fechado do planeta. A umbanda cresce e não tem televisão. É o boca a boca”, salientou o deputado estadual, Coronel Edson Ferrarini.
Neste mês, Pai Jamil Rachid completa 60 anos de sacerdócio como dirigente espiritual de terreiro. De ascendência libanesa, ele nasceu em Nova Granada (SP) e iniciou o desenvolvimento da mediunidade com Euclides Barbosa, Pai Jaú, ex-jogador do Corinthians e um dos primeiros divulgadores da umbanda em São Paulo.
Em 1950, Pai Jamil fundou o Templo Espiritualista de Confraternização da Umbanda de São Benedito. Além desta entidade atuou na fundação e consolidação de diversas organizações religiosas como a União de Tendas de Umbanda e Vale dos Orixás. Escreveu o livro A Força Mágica da Mediunidade na Umbanda e criou o jornal Aruanda que, durante nove anos, fez a integração entre a umbanda e o candomblé. Nesta religião Pai Jamil se iniciou na Nação Gege-Marrin, com Doté Fomotinho, criado por Mãe Gaiakú da Roça do Ventura, conhecido babalorixá de ascendência africana.
Compuseram a mesa da sessão solene presidida pelo vereador Murad o deputado federal José Genoíno; Coronel Edson Ferrarini; o médico Tuffik Mattar; o presidente do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo, Pai Milton Aguirre; o presidente da Associação Paulista de Umbanda; Moacir Papa; Flávio de Iansã, do jornal “Agaxeta”; José Eduardo de Paiva, da Legião da Boa Vontade; Mãe Maria Aparecida, presidente do Primado de Umbanda do Brasil; a presidente da Liga das Mulheres do Brasil, Mãe Norma de Iansã; Eduardo Brasil, do Fórum de Sacerdotes do Estado de São Paulo; o ex-prefeito de Guarulhos, Jovino Cândido; a presidente da AOESP, Sandra Santos; e Aristóteles Lacerda Jr, representando a maçonaria.
